Bote Baleeiro Santa Maria [História]

Texto e imagens: Clube Naval de Santa Maria

O “Santa Maria” foi encomendado pela Companhia Baleeira Mariense aos estaleiros das Lajes do Pico e foi construído em 1952 pelo Mestre António dos Santos Fonseca.
Com o registo de VP-25B, ficou conhecido como Santa Maria Novo, pelo facto de ter sido mandado construir com o propósito de substituir outro bote do mesmo nome, já então bastante degradado, o Santa Maria Velho.
Possui 11,52m de comprimento, 1,93m de boca e 0,61m de pontal, apresenta 3,396 toneladas de arqueação bruta e custou, na altura, 15.000$00 (cerca de 75€).
Baleou activamente durante todo o ciclo baleeiro em que foi utilizado, tendo sido oficiado pela maioria dos mestres ao serviço da Companhia Baleeira Mariense, entre os quais António Grota, José Oliveira, João da Bica e José Tavares, marienses; e Manuel Melão e José Braga, oriundos das Capelas, São Miguel.
O “Santa Maria” permaneceu armazenado no Porto do Castelo de 1961 (fim do último ciclo baleeiro em Santa Maria) a 1986, data em que foi adquirido (juntamente com o restante espólio baleeiro e alguns terrenos) pela Sociedade Corretora, Lda. e transferido para os respectivos armazéns em São Miguel.
Regressou à ilha de Santa Maria nos finais do século passado, pelas mãos do emigrante de ascendência mariense Everett John Delaura (corruptela de João de Loura), tendo sido guardado num dos armazéns da antiga Fábrica da Telha, em Vila do Porto, até 2011, data em que, depois de solicitado pelo actual presidente do clube Naval de Santa Maria, foi cedido graciosamente ao nosso clube a fim de ser preservado e subsequentemente apoiar a dinamização da nossa Secção de Vela.
Para além deste, o Sr. Everett John de Laura ainda cedeu o bote Nossa Senhora do Bom Despacho, com o registo VP-21B.
No passado dia 26 de Maio de 2012, enviamos o bote baleeiro “Santa Maria” para a ilha do Pico a fim de ser restaurado, tendo assim regressado ao lugar onde foi criado há 60 anos atrás para finalmente poder renascer.
Esse importante trabalho ficou a cargo do Mestre João Silveira Tavares e da sua equipa.
Traçamos por objectivo possuirmos a embarcação preparada a tempo e a modos de participarmos na conceituada Regata dos Botes Baleeiros, organizada pela Vila das Lages do Pico, a ocorrer no dia 25 de Agosto passado, mas o que nos motivou realmente a recuperar esta belíssima embarcação, não foi somente o desejo de participarmos na regata ou em outros eventos de vela, mas, sobretudo, o desenvolvimento da prática desta actividade na nossa ilha, a recuperação da nossa história, o avivar da memória colectiva, valorizar o que nos identifica e distingue como ilhéus e como povo.
Para isso começamos por formar uma tripulação e por criar as condições adequadas para o seu treino, pelo que retiramos o bote baleeiro Cintrão do nosso núcleo museológico onde se encontrava a seco e em exposição e pusemo-lo na água, a navegar, como dão conta os diversos artigos que aqui fomos escrevendo ao longo dos tempos.
Finalmente e depois de decorridos os prazos previstos, no passado dia 23 de Agosto, partiu a tripulação do “Santa Maria” para a Ilha do Pico, a fim de receber a embarcação e de participar na regata.
Dois dias depois fizemos história, pois tendo largado da vigésima terceira posição, quando a regata terminou ocupávamos o quinto lugar.
Foi a primeira vez na história do nosso clube que uma equipa sénior do Clube Naval de Santa Maria participou numa prova de vela e numa regata de botes baleeiros em particular. Foi também a primeira vez que uma equipa de vela oriunda de Santa Maria participa numa regata de botes baleeiros.
Por sua vez, o “Santa Maria” também é o primeiro bote baleeiro propriedade do nosso clube. O “Cintrão” pertence ao Círculo de Amigos de São Lourenço.
A regata, por ter reunido 32 botes, também ficou marcada pela maior concentração desse tipo de embarcações e por ter apresentado o maior número de ilhas presentes, entre as quais a nossa.

Agora aguardamos ansiosamente o regresso do Santa Maria, que está marcado para o dia 25 de Setembro, desta vez não para perseguir ou capturar os grandes cetáceos, mas para com eles partilhar o mar imenso que nos enche a alma.

O RESGATE DO SANTA MARIA
A REPORTAGEM
O SANTA MARIA RECONSTRUÍDO
ÁLBUM FOTOGRÁFICO
Publicada por Clube Naval de Santa Maria em Sexta-feira, Agosto 31, 2012